domingo, 8 de setembro de 2013

Fios elétricos na educação

A educação de hoje em dia me angustia... Essa forma de educar que há séculos é a mesma e que hoje em dia, faz com que crianças recém-alfabetizadas já comecem a se preparar pro vestibular (!!!).
O pior é que não vislumbro NENHUMA luz no horizonte, nenhuma chance de que algo vá mudar.
Rubem Alves traduz em palavras belas e simples o meu sentimento. O trecho que vou copiar abaixo foi extraído do livro dele "Estórias de quem gosta de ensinar".


"Vou contar uma estória que aconteceu de verdade. Sobre um menininho de oito anos, meu amigo. Passei, por acaso, na cidade onde ele mora. O avião chegou tarde. Seus pais foram me esperar no aeroporto. Enquanto íamos para casa perguntei:- e então, e o Gui, como vai? – Ah! sua mãe me segredou, preocupada. Não vai bem não. Na escola. O orientador educacional nos chamou. Problemas de aprendizagem, desatenção, cabeça voando, incapacidade de concentração. Até nos mandou para um psicólogo.

Fiquei surpreso. O Gui sempre me parecera um menininho alegre, curioso, feliz. O que teria acontecido?

Sua mãe continuou:

- O psicólogo pediu um eletroencéfalo…

Aí me assustei. Imaginei que o Gui deveria ter tido alguma pertubação neurológica grave, algum desmaio, convulsão…

- Não, não teve nada, a mãe me tranquilizou. Mas o psicólogo pediu… Nunca se sabe… Até ele não aceitou o exame no lugar onde mandamos fazer. Pediu outro…

Fiquei imaginando o que deveria estar se passando na cabeça do Gui, pai e mãe indo conversar com orientador, entrevista com o psicólogo, depois aquela mesa, fios ligados a cabeça. Claro que alguma coisa deveria estar muito errada com ele. Tendo visto tantos desenhos de ficção científica na TV, é provável que ele tivesse pensado que, quando a máquina fosse ligada, os seus olhos iriam acender e piscar como de luzinhas de diversões eletrônicas…

Quando acordei, no dia seguinte, estranhei. Não vi o Gui lá pela casa. Mas era sábado, dia lindo, céu azul. Com certeza estaria longe, empinando uma pipa, jogando bolinhas de gude, rodando pião, brincando com a mininada. Dia bom para vadiar, coisa abençoada pra quem pode. Pelo menos é isto que aprendi nos textos sagrados, que o Criador, depois de fazer tudo, no sábado, parou, sorriu e ficou feliz…

- Não, ele está estudando.

Foi aí que comecei a ficar preocupado. Assentadinho, no quarto, livro aberto à sua frente. Nem veio me dar um abraço. Ficou lá, com o livro. Cheguei perto e começamos a conversar. E ele logo entrou na coisa que o afligia:

- É tenho que fazer quinze pontos, porque se não fizer fico de recuperação. E isto é ruim, estraga as férias…

Lembrei-me logo do ratinho preso na caixa. Se pular alto que chegue, ganha comida. Se falhar, leva um choque… seu pêlo fica arrepiado de pavor, com medo do fracasso. Ficou doente. Fizeram-no doente.

Eu não sabia o que é que os tais quinze pontos significavam. Mas compreendi logo que eles eram o limite abaixo do qual vinha o choque. O Gui já aprendera lições não ensinadas que o tempo se divide em tempo de aflição e tempo de alegria, escola e férias, dor e prazer… E a professora ainda queria que ele se concentrasse, e gostasse da coisa… Mas como? A cabecinha dele estava longe, o tempo todo, pensando em como seria boa a vida se a escola também fosse coisa gostosa.

Desatenção na criança não quer dizer que ela tenha dificuldades de aprendizagem, quer dizer que há alguma errada com a escola, e que a criança ainda não se dobrou, recusando-se a ser domesticada…

Continuamos a conversa e ele começou a falar de uma forma estranha, que eu nunca ouvira antes. Vocês podem imaginar, uma criança de oito anos, falando de aclive e declive? Pois é, não aguentei e interrompi:

- Que é isto, Gui? Porque é que você não fala morro abaixo e morro acima?
- Mas a professora disse…

Compreendi então. A pinoquização já se iniciara. Um menininho de carne e osso já não usava mais suas próprias palavras. Repetia o que a professora dissera…

Fiquei pensando em quem é que estava doente: o menino ou a escola…

Claro que o ratinho tem de ficar de pelo arrepiado. Pois o choque vem… E eu pergunto se não está mais doente ainda quem dá o choque. Surpreendi-me com essa enorme e perversa conspiração entre a direção das escolas, os orientadores, os psicólogos. Todos unidos, contra a criança. O orientador, coitado, não tem alternativas. Se aliar a criança, perde o emprego, ele é o ideólogo da instituição, encarregado de convencer os pais, por meio de uma linguagem técnica, que tudo vai bem com a escola e que é melhor que eles cuidem da criança.

- Até que ela não é má. Só está tendo problemas. Seria bom levá-la a um psicólogo…

O psicólogo, por sua vez, fica atrapalhado. Que é que ele vai fazer? Desautorizar o diagnóstico de uma rara fonte de clientes? É melhor fazer um eletro. Fios e gráficos dão sempre um ar de respeitabilidade científica a tudo…

Lembrei-me da velhíssima estória do cliente que chegava ao analista e dizia:

- Doutor, tem um jacaré debaixo da minha cama!
- Sua cama não está na beirada da lagoa, está?

Então não há jacaré nenhum debaixo da sua cama. Volte para casa e durma bem…

E assim foi, semana pós semanam até que o tal cliente não mais voltou. O analista ficou feliz. O tipo deveria ter se curado da estranha alucinação. Até que, um dia, encontrou-se na rua com um amigo do homem do jacaré.

- Então, e o fulano, como vai? Sarou de tudo?
- Mas o senhor não soube do acontecido? Ele foi comido por um jacaré que morava debaixo da sua cama…

Há muitas escolas que não passam de jacarés. Devoram as crianças em nome do rigor, de ensino apertado, de boa base, de preparo para o vestibular. É com essa propaganda que elas convencem os pais e cobram mais caro… Mas, e a infância? E o dia que não se repetirá nunca mais? E os sonos frequentados por pesadelos de quinze pontos, recuperação, férias perdidas e palavras de ventríloquo? Escolas jacarés, que as crianças têm de frequentar, e quando começam a demonstrar sinais de pavor frente ao bicho, tratam logo de dizer que o bicho vai muito bem obrigado, que é a criança que está tendo problemas, um foco cerebral com certeza, neurologista, psicólogo, psicanalísta, e os pais vão, de angústia em angústia, gastando dinheiro, querendo o melhor para o filho…

Quanto a mim considero que isso não passa de crueldade dos grandes contra os pequenos. Torturá-las agora, em benefício daquilo que elas poderão ser, um dia, se caírem nas armadilhas que os desejos dos grandes para elas armam…

Não, Gui, fique tranquilo. Está tudo certinho com você. São os outros que deveriam ser ligados a fios elétricos até que os seus olhos piscassem como se fossem lâmpadas de brinquedos eletrônicos…"

Retirado de “Estórias pra quem gosta de ensinar: O fim dos vestibulares”, obra de Rubem Alves

sábado, 31 de agosto de 2013

Um sonho de educação

 

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Quando o Arthur escreveu isso num dever de filosofia, minha primeira reação foi de rir muito. Até postei no Facebook. Mas em seguida comecei a pensar: será que a escola representa somente trabalho para o meu filho? É isso o que eu desejo?

Daí vieram trabalhos de escola com os quais fiquei especialmente chateada por causa da falta de contexto. Por exemplo, ele tinha que pesquisar sobre culinária, história, geografia e economia da Região Sul. Se eu bem me lembro dos tempos de escola, as pesquisas que eu fazia só serviam para copiar da enciclopédia delta as respostas, sem nunca me preocupar com o que eu estava escrevendo.

Hoje em dia, elas são cópias da internet. Eu tentei situar o Arthur na região sul, falei que já fomos para Gramado, para Santa Catarina, e para as Cataratas do Iguaçu, todas na região sul. Fiz com que lembrasse das comidas típicas de lá. E perguntei se a professora perguntou em sala se algum aluno era do sul, se alguém já tinha passado férias lá. Ele disse que ela não perguntou. Ou seja: a educação fora do contexto. Na idade em que estão, é preciso dar coisas e exemplos concretos para que a criança realmente entenda. Uma grande oportunidade de vivenciar exemplos foi perdida...

Hoje fui a uma palestra MARAVILHOSA do educador da Escola da Ponte, em Portugal, José Pacheco. Você já ouviu falar da escola da Ponte? É uma história fascinante e inspiradora de como a educação pode ser usada para mudar, transformar, tornar uma simples criatura num cidadão. Para conhecer mais sobre a escola da ponte, sugiro esse livro do Rubem Alves, cujo título já diz tudo: A escola que sempre sonhei e nunca pensei que pudesse existir. Essa  filosofia também está formando alguns frutos no Brasil, como no Projeto Âncora, em São Paulo, o que se pode verificar nesse vídeo

Daí você me pergunta: por que essa mãe está me falando isso tudo? Porque eu gostaria que a escola dos meus filhos fosse um pouco como a Escola da Ponte. Onde os professores não precisam encomendar pesquisas só para constar do calendário escolar, mas para que as crianças realmente possam se interessar por aprender. Onde a palavra que meu filho relacione à escola/professor não seja trabalho, mas inspiração e exemplo. 

O José Pacheco falou do poder das palavras. Educação Superior? E qual é a inferior? Grade curricular: prisão? Carga horária: trabalho? É isso o que queremos para nossos filhos? Quero inspiração na educação.

Você deve estar pensando "mas ele escreveu também que a família só representa mesada". É fato, mas como aqui em casa a mesada é uma coisa negociada, mais educativa do que financeira propriamente dita, e que ele fica várias semanas sem receber os 10 reais dele porque fez alguma má-criação, eu não vesti a carapuça. Mas, de repente, é outra coisa a se pensar.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

“Nós, as mulheres, gostamos de parir"

Eu não posso falar por todas as mulheres, mas digo por mim: parir meus dois filhos foi certamente a melhor sensação que já tive na vida.
Ouvi a frase do título hoje, assistindo ao filme “O Renascimento do Parto”, com o qual eu contribuí com uma pequena quantia que permitiu que meu nome saísse nos créditos finais como agradecimento (fiquei orgulhosa). O filme bateu recorde em financiamento coletivo pelo site Benfeitoria, sendo que a meta inicial de 65 mil reais foi atingida em apenas 3 dias. Ao final, foram 143 mil reais de financiamento, o que prova que muita gente, como eu, está interessada em conscientizar as pessoas e tentar reverter a lógica do “parto fast food” servido nos hospitais hoje em dia.
Chorei vendo a violência com que arrancam os bebês nos hospitais das barrigas das mães. Me identifiquei com o Márcio Garcia (que teve 3 filhos, o primeiro de cesária, o segundo de parto normal e o terceiro em parto domiciliar). Ele conta que ficou indignado quando a enfermeira pegou o filho dele pelo pé (“como se fosse um frango”) para dar banho, e a enfermeira justificou que fazia aquilo todo dia. “Mas meu filho é meu, é único, e você não vai tratá-lo como mais um”, respondeu.
Fiquei lembrando muito dos meus partos, até me arrependi de não ter deixado um registro de fotos ou vídeos do momento. Fiquei lembrando de como é boa a sensação das primeiras contrações, que te contam que o bebê está pronto para sair. Como é boa a sensação das contrações se intensificando, enquanto o mundo lá fora vai perdendo importância, e a única coisa que interessa no mundo é aquele processo de simbiose entre mãe e filho. Me senti poderosíssima quando Arthur e Léo saíram de mim, cansadíssima, mas carregada de um amor que foi coroado naquele momento único. Quando você está exausta, suada, descabelada, e te entregam o seu filho no colo para mamar, quando ele se acalma com sua voz, DEFINITIVAMENTE, isso NÃO TEM PREÇO.
Não quero mais ter filhos por N motivos. Mas se fosse pelo parto, eu teria uns 10. Morro de saudades desse momento, e vendo o filme eu acho que até arriscaria um parto domiciliar numa boa (se eu tivesse mais filhos), como conheço algumas que fizeram e só dizem maravilhas…primeira foto
E mais emocionante ainda foi ver no filme o depoimento da minha obstetra Rachel Reis, que nos meus dois partos era mais do que uma médica, era como uma melhor amiga me dando força para continuar. Te admiro demais, Rachel!
Tenho um sentimento de choque quando vejo a sociedade (e muitas mulheres) ficarem impressionadas quando digo que tive dois partos normais. “Noooosssa, mas cesárea é muito melhor…”. De onde surgiu esse pensamento, meu Deus?
EU TENHO ORGULHO DE SER UM ANIMAL MAMÍFERO, FÊMEA, E DE COLOCAR FILHOS NO MUNDO COMO A HUMANIDADE SEMPRE FEZ HÁ MILÊNIOS.
na suíte de partoGostei muito de um depoimento que ouvi hoje: tem mulheres que justificam a cesárea porque não entraram em trabalho de parto… Mas o tempo delas foi respeitado? Cada uma tem o seu trabalho de parto. Se não dermos tempo ao tempo, nunca vamos saber. No parto do Arthur, meu trabalho de parto começou na segunda-feira de manhã, durou até de noite, na terça-feira de manhã parou e recomeçou na terça à tarde. Ele foi nascer depois das 9 da noite da terça. No do Léo, comecei as contrações ao meio-dia num churrasco e 8 horas depois ele estava nascendo. Tudo tem seu tempo.
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E o mais legal é que no meu círculo de amizades, eu não sou um ET. A grande maioria das minhas amigas teve filhos de parto normal e estão muito felizes com sua escolha. Porque o parto normal, na maioria das vezes, é uma escolha da mulher, mesmo que não seja escolha do médico. Ju, Jaque, Ionara, Maris, Lenícia, Lelê, Michelle, Gisele, Natália, Aninha, Cristiane, Neiara, Théo, Méia, Fernandinha, Cacai, Laura…
Só posso agradecer ao Bruno, que sempre foi meu incentivador nessa história…
“Quando não tivermos mais nenhuma mulher parindo por via vaginal por absoluta incompetência da nossa sociedade de lidar com esse fenômeno, talvez seja tarde demais”, disse o médico obstetra Ricardo Jones. Fica o pensamento…

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Paraíba tudo de bom

João Pessoa fica entre Recife e Natal, dois polos super procurados do Nordeste. Por algum motivo que não sei explicar, essa cidade de águas verdes não foi (ainda) invadida por hordas de turistas. Isso explica a tranquilidade na orla, onde se pode encontrar facilmente estacionamento a qualquer hora. Onde se pode caminhar, passear, correr ou simplesmente curtir tranquilamente as praias urbanas, com sua orla bem cuidada, com vários deliciosos restaurantes um ao lado do outro, em frente ao mar. João Pessoa também tem um sistema de ciclovias de dar inveja a muita capital por aí. Eu simplesmente AMO toda essa tranquilidade de JP.

Os prédios em frente às praias de João Pessoa são baixinhos, de quatro, cinco andares no máximo. Isso deixa a cidade ventilada, um exemplo para aquelas metrópoles que acham erroneamente que a altura dos prédios é diretamente proporcional à qualidade de vida de seus habitantes.

Ao lado de João Pessoa fica a cidade de Cabedelo e lá o Rio Paraíba é palco de espetáculo diário que une a beleza da natureza com a arte do ser humano. Todos os dias, quando o sol ameaça se pôr, um saxofonista toca o Bolero do Ravel enquanto os últimos raios do sol vão sumindo no rio. Que coisa bela! Que momento único. Todo mundo para pra  ver o pôr-do-sol de Ravel da praia do Jacaré. E essa praia do Jacaré ganhou, nos últimos anos, ares de point transado, com lojinhas e bares alternativos, por onde se passeia antes e depois do pôr-do-sol.20130723_172925

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20130724_174159No nosso último passeio a João Pessoa, visitamos a Estação Cabo Branco, um complexo lindo, de Niemeyer, num local com uma vista esplêndida da cidade, que simplesmente me impressionou muito. Tem exposições, teatro, sala de espetáculos, mirante, e um passeio científico interativo que nos encantou demais! Fomos lá no fim da tarde, saindo da praia, e não nos arrependemos. Tudo de graça!

Meu primo querido, o Julinho, nos levou para conhecer seu Pantanal Paraibano, um espaço que ele está planejando com muito carinho para receber turistas ecológicos e bicho-grilos como nós. Ele nos levou para conhecer também uma praia que eu não conhecia, a Praia Bela, ao sul de João Pessoa, no município de Conde. A praia é um paraíso, com um rio entrando no mar, que simplesmente encantou os meninos, que não paravam de brincar nas suas margens. E as barraquinhas à beira-mar/rio servem peixes deliciosos. Super recomendo!

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quarta-feira, 5 de junho de 2013

Não tire meu direito!

Não sei se você, tanto como eu, fica impressionado com a capacidade que algumas pessoas têm de NÃO ENTENDER QUE AS PESSOAS SÃO DIFERENTES. Ficam gritando em frente ao Congresso: "a bíblia diz crescei e multiplicai-vos", como se TODO O BRASIL fosse obrigado a crer na mesma coisa que eles. Se ele quer crescer e multiplicar, ótimo, vá em frente. Mas deixe os outros seguirem a sua vida como desejam.
Mas tem uma coisa boa: esse blablablá todo dessa tarde só serviu mesmo pra gastar goela. Como o ex-presidente do STF acaba de lembrar na TV: o Supremo já decidiu a igualdade, a realidade do casamento gay, e PONTO FINAL.
Parabéns para o STF, que teve coragem e peito de encarar esse assunto e realmente colocar um ponto final na questão, coisa que o Congresso não teve, não tem nem terá coragem para fazer.

si no le gusta que le quiten sus derechos no se los quite a los demás

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A vida começa… aos 40?

4273001023 de novembro de 2012. É hoje que eu entro nos 40. Apesar de totalmente convencionada socialmente como uma passagem, eu estou tão reflexiva hoje que certamente para mim está sendo isso mesmo.
Os meus 40 anos são resultado do que plantei nesses 39 anos anteriores. Claro. Uma adolescência da qual prefiro não me lembrar (alguém aqui gostava de ser adolescente?), cheia de complexos (magreza, timidez, etc etc etc), e alguns traumas que certamente moldaram meu caráter.
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Dizem que perto dos 20 chega-se à idade adulta. Eu tive a sorte de conhecer nessa época pessoas hiperespeciais na UnB, que são meus melhores amigos até hoje, e que era uma turma que gostava de uma farra (até hoje). E foi aos 20 que comecei a namorar o Bruno, e começaram nossas viagens, muitas maluquices e muitas farras com a turma, etc. Com 20 eu comecei a trabalhar, emprego público, tudo certinho. Com 20 anos me formei. Tudo ao mesmo tempo. Fui perdendo meus complexos de magreza e comecei a me aceitar, me gostar um pouco mais. 


DSC00452Aos 30, a maior emoção da minha vida ao me descobrir grávida, alguns dias antes de completar 31 anos. Aos 30 e poucos anos, descobri com o Léo e o Arthur que o amor é uma coisa imensa, que o nosso coração pode pulsar fora do corpo. A minha vida mudou completamente: agora ela fazia todo o sentido fora de mim. O foco saiu do "eu" e passou para "eles". É um aprendizado constante essa tal de maternidade.


IMG_1832Agora cheguei aos 40. Posso dizer que fisicamente estou numa das melhores fases da minha vida (sorte poder dizer isso aos 40). A corrida me trouxe desafios que tento superar com um pouquinho de disciplina e muita alegria (sem deixar que a corrida se torne para mim um fardo, ou uma obrigação). Trabalho num lugar que me satisfaz profissionalmente, com pessoas que adoro. Tenho muita disposição para viajar com o Bruno e meus filhos. Continuo amando meu marido depois de 19 anos juntos. Cultivo amigos de décadas, mas faço novas e importantes amizades sempre. Me apego a trabalhos voluntários que preenchem grande parte da minha existência. Busco valorizar minha espiritualidade tentando compreender melhor a doutrina espírita, “religião” que adotei há uns 10 anos. Minha ambição é uma só: ser feliz, contribuir para a felicidade dos outros e ver meus amigos e familiares felizes. Quem poderia querer mais?
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segunda-feira, 1 de outubro de 2012

É preciso ter coragem

Estudar, passar num concurso, comprar carro, comprar apartamento, casar, ter filhos, tirar 30 dias de férias por ano. Eu e Bruno estamos seguindo direitinho, há décadas, o roteiro que se espera da classe média brasileira. Mas tem um problema… eu passo os dias sonhando com minhas próximas férias. E invejo muito quem já se aposentou e aproveita ricamente esse período.

No nosso trabalho, nós temos a possibilidade bênção de tirar licença sem vencimento. As pessoas tiram essa licença por vários motivos. Nós vamos tirar para viajar. Tanta gente economiza dinheiro para aumentar cada vez mais o patrimônio material. Compra apartamento, casa, outro apartamento, aumenta o patrimônio mais e mais. Eu e Bruno estamos economizando para aumentar nossa qualidade de vida fazendo o que mais gostamos de fazer: viajar… Levar os meninos a abrir mais ainda seus horizontes. Abrir os nossos também.

Estamos fazendo mal a alguém? Que eu saiba não: não vamos pedir dinheiro emprestado, não vamos morar na sarjeta, já temos casa e carro, pra quê mais? E por que será que muita gente olha de cara feia para essa decisão? “Dri, porque você não manda o Bruno fazer um doutorado?”, eu acabei de escutar minha mãe dizer.

Eu não consigo entender. Não fomos demitidos, daqui a alguns meses tudo volta a ser como antes (para mim, nem começou ainda). Trabalho e salário no fim do mês. Mas os olhares críticos que recebemos de muita gente me fazem refletir. Por que esperar mais de uma década ainda para aproveitar tudo o que não podemos hoje na sonhada aposentadoria? Por que não fazer os sonhos se lambuzarem na realidade, nem que seja um pouco, ainda agora?

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Admiro muito a Família Schurmann, aqueles que tinham empregos fixos e casa com portão, venderam tudo e foram velejar pelo mundo com 3 filhos pequenos. Quanta crítica eles devem ter aguentado. Quantos olhares enviesados… E hoje, são pessoas que podem olhar pra trás e dizer: soubemos aproveitar. Demos uma educação primorosa a nossos filhos, que beberam da melhor fonte que podiam ter: o mundo. Enquanto eu não tenho a coragem da Família Schurmann, vou me ajeitando como posso.

Não critico quem não sonha como eu. É até mais fácil se contentar com 30 dias de férias por ano (+ o recesso do natal). Eu tento me contentar, mas às vezes bate o vento da coragem. Foi ele que me tocou. E resolvi atender ao seu chamado.

sábado, 25 de agosto de 2012

Meu doce leãozinho

Os chutes que ele me dava quando estava dentro da minha barriga já denunciavam: esse Leléo não ia ser mole, não!
Eu não estava enganada, o danadinho ficava em pé no balde de banho desde pequeno, começou a engatinhar com 4 meses, passando por cima de outros bebês da mesma idade que nem mesmo viravam de lado. E assim foi. A última estripulia foi aprender a andar de bike sem rodinha com 4 anos!
O Léo amanhã faz 5 anos. Cinco anos que ele nos brinda com seu sorriso meigo, seus caracóis de cabelos, seus olhos de jabuticaba. Há 5 anos ele vem nos ensinando muitas coisas. O maior ensinamento que ele me trouxe é que amor não se divide, mas multiplica, veio mostrar que amor de mãe realmente não tem tamanho.
Leozinho, você é o leãozinho que me faz sorrir todos os dias. Seu aniversário chegou, meu doce Leléo!

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Santiago!

Nesse momento, estou deitada debaixo das cobertas em Santiago. Chegamos aqui na última sexta e já fizemos muita coisa. Na janela em frente ao meu quarto, está o Cerro San Cristóbal, um lugar de lazer e fé de Santiago, onde já passeamos. Da janela do quarto dos meninos, quando o tempo deixa, descortina-se a indescritível Cordilheira dos Andes. É lindo estar numa cidade em que se veem altíssimos picos nevados em toda a parte, isso quando a inversão térmica e a poluição deixam ver algo.
No nosso primeiro dia aqui, um sábado, fomos ao Cerro San Cristóbal. Tínhamos que levar os meninos ao funicular, para ver Santiago lá de cima. E depois, iríamos ao Zoológico que fica no meio do Cerro. Chegamos cedo, umas 10h, e tinha uma pequena fila pra comprar os boletos pro funicular, com uma única caixa atendendo. Subimos até o fim e vimos a vista linda de Santiago.
Depois tivemos que descer até o pé do cerro porque o funicular não parava na descida na estação do zoo (vai perguntar pros chilenos por que). Daí, tivemos que subir a pé uma pequena caminhada até o zoo. Nessa hora, parecia que toda a população de Santiago e todos os turistas estavam ali, a fila pro funicular era monstruosa e me perguntei se ainda tinha somente um caixa aberto.
No zoo, os meninos ficaram eufóricos, eu fiquei claustrofóbica, nunca vi tanta gente junta, tinha até fila para olhar os animais... Não temos muitas fotos do primeiro dia porque eu esqueci a minha máquina maravilhosa num táxi... Fiquei triste, triste mesmo, mas deixa pra lá.
No dia seguinte fomos passear no centro de Santiago, vimos o palácio de la Moneda e a Plaza de Armas. Eu achei o centro bem caído, muitos mendigos deitados no chão, nenhum restaurante ou barzinho legal para disfrutar a praça, acho que os chilenos precisariam repensar o centro... No outro dia, foi dia de neve! Mas isso fica para um novo post. Em breve!

sábado, 14 de julho de 2012

8 anos de amor

filhos1Ontem, fez 8 anos que Deus confiou a mim e a Bruno um bem mais precioso e disse: vai, Arthur, vai agitar a vida desse casal. Até hoje eu choro quando lembro da emoção que senti quando ele saiu de mim e veio imediatamente mamar, se acalmando com minha voz.
Hj o Tutu é um meninão cheio de ideias que só faz crescer e nos trazer alegrias. Ele tem pensamento rápido, suas ideias às vezes vão onde eu não consigo alcançar. Questionador, mas doce e carinhoso. Esse é meu Tutu. Que me faz aprender todo dia que o amor não tem limites. Simplesmente, não tem.

"É bom saber que és parte de mim...", meu querido Arthur. Te amo te amo e te amo!

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segunda-feira, 9 de julho de 2012

Uma conquista

 
E foi devagarinho. Comecei a correr corridas de 5km em 2010, depois de algumas corridas, troquei para 10 km (a primeira foi a Corrida do Fogo, também em 2010) e vamo que vamo, continuei quietinha correndo 10 km. Até que no início do ano... decidi correr uma meia maratona (são 21km).
Mas não dava para ser num lugar “marromeno”, não dava para ser em Brasília, por exemplo, porque já estou cansada da paisagem daqui. E para mim, a corrida é mais do que metade feita da cabeça, eu muitas vezes encho o saco de correr, se eu não tiver um incentivo, acabo desistindo. Então, tinha que ser num lugar que o cenário compensasse o esforço.
E que lugar melhor do que a Cidade Maravilhosa? Me inscrevi na Meia Maratona do Rio, que aconteceu ontem. O Bruno foi me dando todo o apoio de que eu precisava. Estava com minha irmã Ana e cunhados, a rústica Chris e o baiano Fred. E ainda estava no meio da equipe que é como uma família, a Evolua. Nada poderia conspirar tanto a favor. O resultado disso? Só sucesso!
O domingo amanheceu chuvoso, mas a meteorologia já tinha avisado isso pra gente. Chegamos na Praia do Pepê alguns poucos minutos antes da largada, depois de pegar um engarrafamento às 6h da manhã no caminho. E vamo que vamo. Larguei, ainda tentei acompanhar uns colegas mas decidi que a melhor estratégia era correr sozinha, sempre no meu ritmo. E fui olhando a paisagem, admirando aquela cidade maravilhosa, para todo lado que se olha é um cartão postal. Passamos por lugares que eu nunca passaria a pé, como a entrada da favela do Vidigal, o elevado Niemeyer, a cada segundo, a paisagem mais bonita do mundo aparecia na minha frente.
Vem Ipanema, vem Copacabana, vem túnel, e nada de bater cansaço. Tinha muita hidratação na prova e até frutas sendo oferecidas, banheiro fácil no caminho, tudo conspirando a favor. Quando cheguei a Botafogo e vi que estava acabando, não me bateu alívo de pensar “tá acabando”. Me bateu felicidade de ver que estava acabando, e eu, que nunca tinha corrido mais do que 14 km, estava inteiraça! Nem aquela chuva conseguiu estragar minha vitória.
Depois de 2 horas e 19 minutos correndo, cruzei a linha de chegada. Recebi um super beijo do Bruno, encontrei meus amigos queridos e ainda tivemos a oportunidade de vivenciar uma hipotermia coletiva enquanto esperávamos nossos casacos presos num ônibus quebrado. Nem isso tirou o gosto da VITÓRIA!
Agradeço os treinos e conselhos do Tio Eder, que foram muito valiosos para o resultado. E os treinos, bate-papos e risada da Tia Ju, minha “personal pilates” que também contribuíram para que eu não sentisse dor nenhuma no final.
Valeu demais!

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Eu, no Ceará...

Meu depoimento sobre o Ceará saiu no Correio Braziliense, numa edição especial sobre o estado...

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Eu corro, mas não sozinha



Há um ano, mais ou menos, eu decidi parar de correr em running classes, que eu não aguentava mais correr em esteiras, e entrei para um grupo de corrida, pelas mãos da minha cunhada Chris. Entrei pra Evolua, um grupo muito unido, na verdade uma família, que cresce a cada dia. Cada um se apoia, em cada corrida temos uma estrutura bem bacana, e o incentivo da equipe é fundamental pra eu continuar nessa onda.
Treinamos duas vezes por semana cedinho no Drive-in (às vezes pulamos a cerca e  vamos pro autódromo treinar). E uma vez no fim de semana em outros lugares. E são meus colegas de treino meus maiores incentivadores de eu continuar correndo. Afinal, a gente corre, mas se diverte, conversa, ri bastante durante os treinos. E a maioria dos meus companheiros de treino corre muito mais do que eu, daí eu me sinto aquela irmã mais nova que fica querendo brincar com os mais velhos. Eu quase chamo o SAMU pra tentar acompanhar essa galera, eles continuam correndo muito mais do que eu, mas tenho certeza de que eu corro muito mais do que se eu não ficasse tentando acompanha-los.